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DESNUTRIR O EGO PARA IDENTIFICÁ-LO

Há muito se estuda o ego ou aquilo que dá traços a nossa personalidade. No Yoga, ciência com mais de 5 mil anos de existência, já se investigava essas camadas de nós mesmos. E uma delas, a que mais interage com o meio, é chamada ahaṁkāra ou ego, do sânscrito de forma literal seria “eu faço”, justamente por conduzir os órgãos dos sentidos à ações que nos coloque em contato com objetos sensoriais, especialmente aqueles que promovem prazer.

Ainda nessa ciência e com concomitância a uma outra chamada Samkhya, vemos a divisão entre Consciência, mente e ego (buddhi, manas e ahaṁkāra), esses três órgãos subjetivos recebe o nome em sânscrito de Antahkara ou “orgãos de dentro”, e podemos entender a Consciência como o receptáculo da Inteligência Universal, poderíamos dizer que seria a centelha divina em nós ou aquela parte de nós que faz reverberar a verdade, que reconhece para além da aparência, uma percepção intuitiva, quase telepática, que muitas vezes nos inspira com algum insight, talvez com uma ideia brilhante. Já a mente seria o instrumento que reflete as impressões absorvidas dos estímulos externos, reflete os desejos, repúdios e projeções do ego, mas também é onde os fenômenos da Consciência se manifestam. É na mente que emerge aspectos do inconsciente, da memória, da criatividade, da inteligência ou da razão, porém no geral ela está sempre ocupada com o ego, seus diálogos, suas fantasias e reafirmações baseadas na identificação com o personagem por ele criado e sustentado como sendo o Eu.



A Consciência, por estar conectada ao todo, sabe que é parte do todo. E de forma antagônica o ego acredita estar separado do todo, acredita ser um indivíduo isolado, por isso compete, disputa, quer ser o melhor, porque vive a ilusão da separação, mas também porque não tem tanta fé em sua crença, é inseguro, desconfia que talvez não seja desconectado do todo, por isso está sempre tentando reafirmar, para si mesmo, que ele existe como indivíduo separado, reafirmar sua existência é uma prioridade, provar que é alguém particular, único, ele precisa buscar constantemente a confirmação disso. Conceber a ideia de ser um com o todo implica em uma ameaça existencial a todo seu empenho na construção e manutenção de um indivíduo com sonhos e desejos próprios, por isso precisa se convencer, fortalecer sua fé. Além de que, a todo momento procura o preenchimento para esse vazio de não reconhecer-se o que verdadeiramente é, e o faz, buscando experiências de prazer sensorial. O ego busca destaque, ele precisa ser notado, precisa se convencer de que estão percebendo o indivíduo isolado do todo que ele acha que é, dessa maneira ele constrói uma série de estratégias para chamar a atenção, às vezes é sendo distante, coitadinho, às vezes é perseguindo a luz do holofote, mostrando o tanto que sabe, o tanto que controla, o tanto de poder que tem, tudo que já viveu, suas ideias impecáveis, seu jeito diferenciado, etc. Para que isso seja possível ele necessita do social, estar entre as pessoas.


A vida nos coloca em muitas situações, vivemos em diferentes realidades socioeconômicas, culturais, físicas, afetivas e outras tantas distinções, porém o ego continua buscando as mesmas coisas, sim, de maneiras diferentes, mas sempre nos desviando dessa realização, que é o dar-se conta, de que Eu Sou, sou Um.


E quando não estou cercado de pessoas para interagir comigo e assim provar que que eu existo? Bom, hoje temos as redes sociais, temos os likes das pessoas, os coraçõezinhos, temos as visualizações, isso contempla essa necessidade do ego. Mas e se não tiver o celular, o computador ou a plateia? Então, existe um mecanismo que nos faz sair rapidamente da experiência de introspecção, algo que nos tira de dentro, que também nos dá a sensação de existência, que é o ato de falar, mesmo que sozinho, mas só de nos escutarmos nos traz essa sensação de “sim, estou aqui". E no caso de não ter o social, não ter aparelhos para se entreter e também estar no compromisso de não conversar, estar em silêncio? Nesse caso o ego come, ele vai querer tapar todo esse vazio.


E se decidirmos não comer? Ele vai buscar qualquer coisa que possa preservar a vida do corpo, pois sua identificação com a imagem e forma do corpo (que muitas vezes o leva a achar que isso é ele) o faz também cuidar desse veículo, pois é que o permite desfrutar de prazeres sensoriais, contudo, nesse estágio, no jejum e em silêncio, o ego está mais “fraco" e cede, então é possível flagrá-lo, analisá-lo e reconhecê-lo. Ele abre mais espaço na mente e dá a chance de acionarmos aquele que é a mescla da mente com a Consciência, o observador. Ao estar consciente do ego e testemunhando os fenômenos a nossa volta, nos colocamos no momento presente e nele abrimos ainda mais espaço para a conexão com a Consciência, com nós mesmos.


Tiramos do ego seus alimentos e isso nos permite acesso a nós mesmos. Através desse processo de autoconhecimento temos a chance de administrar melhor nosso ego, lapidar o personagem, estar mais afinado com o todo e atuar no mundo de maneira mais positiva para si, e para o benefício de outros.

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